quinta-feira, 25 de setembro de 2014

VII

A minha cabeça não pára...
Todos me dizem que penso demais e que os meus pensamentos são meus inimigos mas não consigo desligar as rodinhas que giram dentro de mim.

Quanto mais o tempo passa, mais eu acho que nasci com o género errado.
Tenho um colega que em tom de brincadeira me chama "man with boobs", o que não é de todo infundado.

Cada vez mais acho que apesar das minhas crises existenciais tipicamente femininas, todos os meus desejos, comportamentos, por vezes até a linguagem e queixumes são tipicamente masculinos.
Digo palavrões, não me sento com as pernas cruzadas, tenho um apetite sexual identico ao de um adolescente, quando acho que já não há nada a fazer deixo de responder, de me esforçar ou mesmo reagir.

Não sei se será fruto de ter crescido com homens e de os meus melhores amigos na idade de desenvolver a minha personalidade serem maioritariamente homens também.

O que eu sei é que nem sempre foi tão vincado como agora. Passar pela vida de namorada, esposa e tudo que isso implicou até chegar ao estado de divorciada acabou por mudar-me ou talvez apenas voltar a despertar o que era antes de tentar fazer tudo para agradar a alguém mais do que a mim. Mas mais insuportável ainda do que era, porque agora ao revoltada acrescento, sim admito, amarga e praticamente incapaz de confiar em quem quer que seja.

Desconfiada sempre fui, sempre tive dificuldade em partilhar sentimentos e expor-me.
Fui criada assim, emoção era fraqueza, não procuramos as pessoas, elas se nos quiserem bem ou se tiverem algum tipo de preocupação conosco, vêm até nós.

É claro que isso acaba por levar os outros a pensar que sou uma cabra fria, ciumenta e insensível com um traço de arrogância.

A outra grande diferença de antes para agora é que deixei de me importar com o facto das pessoas irem e nunca voltarem, perdi a paciência para aturar coisas e pessoas que não são importantes ou não me consideram relevante o suficiente para manter uma relação seja lá qual ela for.
Lá está como um homem... os homens quando se chateiam, insultam-se, andam à batatada e depois seguem com a vida deles até que um dia se encontram na rua e está tudo bem.

Assim estou aqui, sentada no meu canto, a pensar que já passou demasiado tempo desde que eu tenho o que eu realmente quero e preciso. E os outros... os outros que se danem.
Eu sei o que preciso, sei o que quero, se o peço e não me dão, não me respondem, não me procuram e ignoram, então talvez seja o momento de cortar o mal pela raiz.

Alguma jardinagem já está feita, falta o resto. É tudo uma questão de tempo.
Gostava de vir abrir a minha alma e ter algo de bom para dizer para variar. Sim, eu sei que em parte a culpa é minha, mas também tenho sempre muito filho/a de uma senhora da má vida que gostam de me estragar o dia ou azedar os meus ânimos.

Que vão todos para onde o sol não brilha!

Dizem que passamos por 7 estágios antes de recuperarmos de uma situação traumática, bem... acho que cheguei à revolta... mas supostamente estou na depressão.
Até nisto já estou completamente baralhada...